Aprendi a viver de renuncias. Durmo a tarde inteira. Tomo
café frio. Trabalho duas vezes por semana. Faço nada.
Sou do nada. Estou em crise.
Tenho sentido tédio das pessoas com maior frequência do que
o Ministério da Saúde adverte.
Ontem li sobre a mulher que processou a fábrica de cigarros
pela morte do marido e ganhou.
Ando pensando em processar a vida. Eu me processo.
Corrigi hoje a monografia de uma amiga que está se formando
em nutrição. O tema é “alimentos ultra processados”. Não sabia até hoje a existência de tal coisa.
Corrigi apenas os erros gramaticais. Se os ultra processados vão ganhar o
julgamento, cabe a eles.
Eu perdi, assim como a fábrica de cigarros, pelas circunstâncias.
Não pelas escolhas.
É segunda-feira, 13 horas, trabalho duas vezes por semana. Faço
nada.
Renunciei o resto da tarde para dormir.
Talvez lavar a louça.
E fazer café.