domingo, 29 de maio de 2011

Adeus

Seguro firme o ferro do metrô gelado
No vão das coisas fúteis
Ele para.

No tropeço contínuo da escada que sobe
Eu subo.
Sem rir.

Ando pensando em me despedir,
Em mudar de quartos.
Da despedida sofro a pena.

Abraço a certeza de não mais te querer aqui
Assopro a fumaça dos dias em que achei rirmos juntos.

Acabou você.
Nós.
Das cordas que nos prendiam.

A piada da graça acabou.
E tu?
As mentiras caíram.
Eu vi quebrar, eu vi.

Se nestas frases a rima não vem, é por que
Querida amiga
Elas foram para longe de nós dois.

_
Ao pobre de mim, que ri querendo chorar quando está com você.

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Aos nove.

Foi no ano de 1999. Eu estava parado na rua juntos dos amigos do bairro esperando começar mais uma partida do jogo fácil que era repetido noite adentro até as mães aparecerem nos portões e chamarem todos para dormir. Nesse dia em especial, alguma coisa dentro mudou. Eu tinha nove anos. Havia vivido nove anos sem dúvidas ou incertezas da vida, mas nesse dia sim o mundo mudou. Eu mudei por dentro. Sentado na calçada eu me perguntei se os números da idade, se a vida, se os sonhos passam. Foi inocente e prepotente pensar nisso, mas é a única coisa clara que me lembro da época. 
Agora no intervalo do resumo sobre arte renascentista parado com o café e o cigarro na mão, volto a me indagar as mesmas questões. A minha única certeza é que daqui a alguns tantos anos vou lembrar-me disso e achar uma enorme prepotência.

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Não, não é metáfora.

Nada, absolutamente nada¹ atualmente possui o santo direito de se assumir metáfora. A discussão sobre o mundo fica invariavelmente sob a perspectiva racional e sem gosto dos fatos e teses. A criação perdeu o lúdico e adquiriu qualidades dignas de bons advogados. "Esta obra consegue "persuadir" o espectador." - ouvi dizerem. Como pode o espectador no alto de sua dignidade ser persuadido por imagens que deviam deixá-lo persuadir, possuir, recriar? Fico assim, em poucas frases assumindo minha indignação com a falta de imaginação, com a falta de humildade de certos tantos criadores e criaturas. Permita-me analogar a vida com os sonhos. Permita-me extrair o de dentro para digerir o de fora.

¹- Permitam-me generalizar.

sábado, 14 de maio de 2011

Gaveta

Tomei dois goles de paciência, três de coragem e mastiguei um pouco de vaidade. Depois da refeição complexa saiu o primeiro portfólio profissional desse que vos escreve.

Segue o link.
 http://moratelli.carbonmade.com/

domingo, 8 de maio de 2011

Passos rápidos

Céu branco de vento frio enquanto a tarde cai. Não é possível ver o rosto das pessoas que passam. As luzes automáticas ainda não compreenderam que é noite e estão apagadas. Tudo está cinza escuro. O amarelo desbota aos pés da árvore por hora negra. O vento é frio. Há silêncio no barulho das conversas tortas. Todos compartilham da tristeza inexata dos segundos. Nos olhamos. Ele procura os fósforos na mochila velha. Eu fico vazio enquanto acompanho o passar dos estranhos. Todos andam com direção e certeza de chegada. Todos estão com pressa. Eu não. Sucumbi à pressa quando o sol sumiu. Ajeito a blusa e acendo um cigarro. Agora da árvore só é possível ver o negro de sua silhueta. Fumaça, roupas densas, solidão em mim. Ele me olha confuso ajeitando o cabelo. Não está tudo bem. Eu respondo que sim. Eu quero sempre pensar que sim, mesmo vendo este pássaro voar para longe. A tarde enfim vai e me diz adeus. Eu fico sem saber esperar.

Frame do documentário "O Voo de Tulugaq"

Cresci

Não tenho tido tempo nem pro café, nem pro café(!), diga você?
Estou andando por aí e lá vem este maldito aparelho de celular a tocar e me dizer que tenho afazeres indispensáveis.

Indispensável passou a ser tudo que não é o prazer.

O filme dispenso,

A reunião não dá.