sábado, 30 de abril de 2011

Passos tortos

Ando inspirado por banalidades
E tenho me feito perguntas retóricas.

A viagem de ônibus demorou mais do que o normal
hoje
A janela estava aberta e o vento frio.
Fazia sol.

A escada do meu prédio tem listras amarelas em cada degrau
Para os que sobem e os que descem
De escada.

No elevador de ferro, nada de faixas
Avisos todos
Sobre o novo pet shop e nova moradora que faz monografias
Tudo no elevador.

Na minha escada, no meu elevador, no meu ônibus
Ando vendo minha vida subir, descer e frear.

Desisti das rimas engraçadas
Dos chapéus coloridos

Comprei um rolo de fita
Amarela
Dizem que evita quedas.

Banho com pouca água

Tudo novo de novo
Nova casa,
Novas ruas para percorrer
Para ver as mesmas faces que não são a sua.
Ainda vivo na textura de teus braços
que se estendem pelo meu destino
de ruas,
abertas ruas,
que em mato a lembrança condensa
e como em rural
a distância nos condena.

Carlos Robson

_
Se era para ser mensagem, virou poema. 
Tenho amado certas vírgulas e suspirado por alguns pontos.

domingo, 17 de abril de 2011

Enquanto o inverno não chega

Às vezes parece que o sol nasce só para queimar seu rosto. Às vezes parece que o passado te chama para uma conversa intima em um canto qualquer. 

Minha cinema que faz amiga e meu letras que faz amigo vieram aqui. Foi praia à noite, foi cafeteria e foram conversas bobas sobre filmes aleatórios. Faz tempo que meu ótimo não é assim tão fim de semana.

Só digo pra constar se colocar amizade no lugar de açúcar, o café tem mais sabor.




domingo, 10 de abril de 2011

Violão de uma corda só.

Um e-mail que foi e ficou. Escrevi direcionado, mas acho que faz sentido se a direção for o vazio.


"Um par de meias verdes em cima da mesa do quarto. Agonia constante que se intensifica toda vez que bato meus olhos sobre elas. Vamos falar por onde as meias andaram, por onde os pés cansados pisaram com elas.

O passado é um caminho inexistente, baseado em reflexos e algumas poucas imagens. Desse grande arquivo bagunçado por nuvens ficam as sensações, os cheiros, os amores e os medos. 

Te vi passar correndo em um sonho. O que são os sonhos senão o passado, o possível futuro, os medos e os desejos. E o passado vira sonho quando passa. Lembrar de sonho ruim é como sonhar o sonho ruim. O passado fica ali no seu bolso esperando você procurar suas chaves com pressa e cai na rua fazendo barulho. Imagina um fim de tarde de vento frio e céu laranja, imagina um tornado de sensações vindas da memória te tirando do chão. Não consigo criar medo pelo passado, eu fico feliz quando ele vem. Eu gosto de saber que vivi, apesar de me preocupar em viver. Correr do passado é correr do agora, você é o passado e o agora. É impossível correr de si mesmo.

Eu tenho medo de não sentir medo. Eu tenho medo de perder o frio na barriga na montanha russa, eu tenho medo de não sentir o frio na pele e o coração batendo rápido na rua vazia, eu tenho medo de não sentir as borboletas quando me apaixono por alguém. Eu tenho medo de não sentir medo. 

Isso é você, isso sou eu. Um corpo repleto de cargas elétricas. Um sentimento não pode te comer se você não permitir. Se você for capaz, ele te ajuda a comer o mundo.

Do meu passado eu gosto das imagens. Não tenho medo das ocasiões destrutivas, viraram fotos amareladas na minha agenda. Elas tem cheiro de árvore morta, são boas de pegar, aproximar do nariz e respirar fundo.

Devíamos todos respirar a vida. Sem a pressa do amanhã e o impedimento do atrás. 

Quando o mural das fotos velhas caí da parede, eles te chamam de morto. Quando o medo se esvai e xícara não fica mais cheia, eles te chamam de alguém. É pouco tempo pra muita coisa, a vida é andar de bicicleta e sentir o vento no rosto sem ter medo de cair na próxima esquina.

Fecha os olhos, solta as mãos do guidão e abre os braços. O amor é como a vida, é como o vento. Destrói casas e acaricia seu rosto. 

Deixa o vento te levar, mas não deixa as fotos do teu passado caírem da sua mão.

Beijo forte com abraço apertado."

domingo, 3 de abril de 2011

O Encontro Marcado¹

Guardei as minhas metáforas confusas no bolso por um tempo...

Eu subia as escadas aqui do prédio e cruzei com uma senhora muito engraçadinha de cabelo meio roxo. Talvez por compartilharmos a incompreensão do mundo quanto aos nossos cabelos, trocamos um sorriso simpático e continuamos nosso caminho.  

Quando cheguei em casa eu descobri que meu pai conhece essa senhora. O nome dela é confuso e parece nome de pedra. Ela foi o assunto a tarde inteira e quando quase chegava a noite ele me disse: “Ela parece muito com você Lucas. Sabe essa sua mania de dar cor e cheiro para tudo? Ela também tem. Outro dia mesmo ela me disse que a tarde estava cheirando a tristeza.”.


¹- O Fernando Sabino tem um livro lindo com esse título. Acho que o usei no título desta postagem, mais para indicá-lo.