sexta-feira, 9 de setembro de 2016

Portas

As portas do armário estão abertas, nada sai.

O vazio sentado ao seu lado aparenta ser maior que você. Estou silêncio.

Você procura na mochila as desculpas que me deve. Acha nada. Sua mochila não é capaz de renunciar por você.

Te tiro os olhos, um mosquito. Sem reparar a fuga, te acho.

Você diz que precisa ir. Onde?

As chaves, onde? Faço aceno com a metade da mão, o vazio te segue. Se vejo o vazio ele também é meu?

Sete passos, apago a luz do quarto olhando as portas abertas.

Amanhã escrevo sobre isso. Amanhã acordo cedo. Amanhã, vou.


domingo, 4 de setembro de 2016

Porta

Deu duas batidas na porta e esperou que alguém abrisse. Respirou fundo, ajeitou a camisa e encarou a porta mais uma vez. Carregava um saco de papel com alças pretas de plástico. Seu olhar era fixo na pequena lente encaixada na madeira à sua frente. Respirava profundamente. Teve medo de todo o ar do corredor ser engolido por suas entranhas, o saco de papel vacilou na sua mão. Deu mais duas batidas e esperou. Sentiu a angústia do não saber. Figurou seu rosto em encenação barata enquanto pensava nas possibilidades da demora. Ouviu passos e um arrepio subiu dos pés à cabeça, ajeitou-se. Ao empurrar os óculos com a ponta do dedo escutou as chaves se agredindo atrás da porta. Concentrou-se para não soar estranho quando falar a primeira frase. Encarou a lente por mais um segundo. “Bom dia”.