terça-feira, 1 de outubro de 2013

Nada

A iminência do sorriso lhe fez sorrir. Tinha nela o passo apressado e costas arriadas, tinha nela todos os sonhos e medos do mundo. Era completa em cacos. Se fazia difícil e padecia aos poucos. Chegou! "Eu sou a próxima da fila, onde estão meus diplomas, onde está o certificado, onde estão?"; "PRÓXIMO!". Andou. Na mesa branca encardida com manchas espaças de fundo de copo derramou seus documentos. "Eu me tornei esse bando de papéis." - Disse entre risos. A mulher não riu. Apenas observava fria o cabelo mal arrumado da menina. Das meninas. De todas que se faziam em mim o que fui por alguns segundos.

"Levantei. Fiz alguns pontos. Meus méritos se traduziram em pontos na mesa encardida de copos sujos espaçados." Ela, eu narrador, você leitor, e todos nós, somos ela. 

A porta rangeu quando a menina saiu. Todos olharam. Vestia saia e tênis, era misturada. Tinha cheiro de perfume forte, como quem não costuma usar perfume.

Foi andando, abriu o carro. Ligou o rádio e pela primeira vez respirou naquela manhã.

Amanhã é sexta. Não se dá mais aos luxos da cerveja. Na atual circunstância todas são caras. Tudo é caro.

Eu sugiro. Não sugira. Ela agora voltava rápido para casa. Tinha pressa em chegar para completar o seu não fazer. Tinha nela a fúria de chegar e concluir o que não havia começado. A falta de rotina ganhara força maior que a própria. Precisava no nada ver seu valor. Preenchia o vazio com mais vazio para se sentir saciada.

Era nada!

Estudou quatro anos, contava cinco pelos estágios não concluídos. Estava só. Abraçada ao diploma. Não tinha nada. Os amigos? "Como está, novidades? E aquela cerveja?"

De que valia. Não tinha ganhos na venda.

A menina tinha passos tortos. A iminência do sorriso. A curvatura já cansada. Os objetivos entrelaçados.
A menina era tu, era eu, era nada.


Um comentário:

Paulo Roberto Figueiredo Braccini - Bratz disse...

ele some, mas qdo aparece sempre nos brinda com suas preciosidades ...