domingo, 20 de outubro de 2013

Rota

Eu assopro.
Você morde.


Estávamos distantes um do outro apesar de caminhar na mesma estrada. Chão seco de terra batida e o vento que anunciava o fim da tarde balançava as árvores do caminho. Outono tudo indicava. Eu tentava rimar meus passos com os dele, ele não percebeu. Andava rápido como quem quisesse bagunçar minha meta. Era pressa.

Estávamos mais próximos. Eu comentei sobre uma árvore. Ele riu. Esqueci a parte ruim do caminho no sorriso. Chamei perto. "Não segura minha mão, podem ver!". Só havia nós dois no caminho.

Emburreci, esqueci o sorriso. Queria ele mais perto, trocar o suor das mãos, dizer com os dedos que o amava. Passou um moço. "Viu só!" - Ele disse. Vi e me aquietei.

Andávamos um ao lado do outro e pedi desculpas. Ele balançou a cabeça. Achei que não havia ouvido. Eu disse que o desculpava. Ele quis saber o "por quê".

Anoitecia. Eu disse que estava com medo do escuro. Ele me mandou continuar andando. Abaixei a cabeça. Eu sabia que ele tinha mais razão que meu medo ou dor nas pernas.

Cai. Escureceu mais em mim que o caminho. Ele correu em minha direção. "Você está bem?" - Ele perguntou. Não consegui responder. Fiz gesto de abraço. Ele me abraçou. 

Andávamos um ao lado do outro. Eu carregava sua mochila. Estavamos longe de onde íamos. Apenas era preciso andar. Eu não tinha certeza se eu era boa companhia. Ele não demonstrava esse medo. Meu medo crescia.

Ele me olhou. Sorriu. Eu soltei uma lágrima.

Segurou minha mão e disse "Continua!".

Eu mordo.
Você assopra.


Ao homem que me descomplica, mas me ama complicado.

Um comentário:

Paulo Roberto Figueiredo Braccini - Bratz disse...

Forte isto:

"Ao homem que me descomplica, mas me ama complicado."