domingo, 4 de setembro de 2016

Porta

Deu duas batidas na porta e esperou que alguém abrisse. Respirou fundo, ajeitou a camisa e encarou a porta mais uma vez. Carregava um saco de papel com alças pretas de plástico. Seu olhar era fixo na pequena lente encaixada na madeira à sua frente. Respirava profundamente. Teve medo de todo o ar do corredor ser engolido por suas entranhas, o saco de papel vacilou na sua mão. Deu mais duas batidas e esperou. Sentiu a angústia do não saber. Figurou seu rosto em encenação barata enquanto pensava nas possibilidades da demora. Ouviu passos e um arrepio subiu dos pés à cabeça, ajeitou-se. Ao empurrar os óculos com a ponta do dedo escutou as chaves se agredindo atrás da porta. Concentrou-se para não soar estranho quando falar a primeira frase. Encarou a lente por mais um segundo. “Bom dia”.

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