domingo, 10 de abril de 2011

Violão de uma corda só.

Um e-mail que foi e ficou. Escrevi direcionado, mas acho que faz sentido se a direção for o vazio.


"Um par de meias verdes em cima da mesa do quarto. Agonia constante que se intensifica toda vez que bato meus olhos sobre elas. Vamos falar por onde as meias andaram, por onde os pés cansados pisaram com elas.

O passado é um caminho inexistente, baseado em reflexos e algumas poucas imagens. Desse grande arquivo bagunçado por nuvens ficam as sensações, os cheiros, os amores e os medos. 

Te vi passar correndo em um sonho. O que são os sonhos senão o passado, o possível futuro, os medos e os desejos. E o passado vira sonho quando passa. Lembrar de sonho ruim é como sonhar o sonho ruim. O passado fica ali no seu bolso esperando você procurar suas chaves com pressa e cai na rua fazendo barulho. Imagina um fim de tarde de vento frio e céu laranja, imagina um tornado de sensações vindas da memória te tirando do chão. Não consigo criar medo pelo passado, eu fico feliz quando ele vem. Eu gosto de saber que vivi, apesar de me preocupar em viver. Correr do passado é correr do agora, você é o passado e o agora. É impossível correr de si mesmo.

Eu tenho medo de não sentir medo. Eu tenho medo de perder o frio na barriga na montanha russa, eu tenho medo de não sentir o frio na pele e o coração batendo rápido na rua vazia, eu tenho medo de não sentir as borboletas quando me apaixono por alguém. Eu tenho medo de não sentir medo. 

Isso é você, isso sou eu. Um corpo repleto de cargas elétricas. Um sentimento não pode te comer se você não permitir. Se você for capaz, ele te ajuda a comer o mundo.

Do meu passado eu gosto das imagens. Não tenho medo das ocasiões destrutivas, viraram fotos amareladas na minha agenda. Elas tem cheiro de árvore morta, são boas de pegar, aproximar do nariz e respirar fundo.

Devíamos todos respirar a vida. Sem a pressa do amanhã e o impedimento do atrás. 

Quando o mural das fotos velhas caí da parede, eles te chamam de morto. Quando o medo se esvai e xícara não fica mais cheia, eles te chamam de alguém. É pouco tempo pra muita coisa, a vida é andar de bicicleta e sentir o vento no rosto sem ter medo de cair na próxima esquina.

Fecha os olhos, solta as mãos do guidão e abre os braços. O amor é como a vida, é como o vento. Destrói casas e acaricia seu rosto. 

Deixa o vento te levar, mas não deixa as fotos do teu passado caírem da sua mão.

Beijo forte com abraço apertado."

Um comentário:

Paulo Roberto Figueiredo Braccini - Bratz disse...

Deixa o vento te levar, mas não deixa as fotos do teu passado caírem da sua mão... com certeza faz sentido se a direção for o vazio ...

Encantamento total